NALDOVELHO
O sangue dos tolos,
as lágrimas de um louco,
a lua esmirradinha
que nasceu num leito de rio,
margem direita em meu quarto,
margem esquerda num abismo.
E os trilhos daquele trem
que nem locomotiva tem,
não transportam mais ninguém,
seus vagões jazem abandonados.
A poesia que eu trago comigo
cada vez mais confusa,
versos extraídos do meu umbigo,
às vezes molhados de outono,
às vezes sementes de sonhos.
O sol de todos os dias,
às vezes exibido, às vezes escondido,
entardecer nublado de maio,
anoitecer chuvoso de outono.
Um bando de pássaros revoltosos
reclamam das corredeiras daquele rio,
preferem águas mansas de um riacho.
Outros empoleirados no meu muro,
planejam invadir minha sala,
querem tomar café comigo.
A cantiga antiga, a dança de roda,
e o sangue continua gotejando:
o anel que tu me deste
era fino e se quebrou,
o amor que tu me tinhas
era pouco e se acabou.